Ingleses Futebol Clube. O bom vizinho
Conhecem a realidade do terreno, as pessoas e as suas dificuldades e anseios. É um clube desportivo com uma enorme vertente social. Estão sempre atentos e prontos para ajudar. Mais do que vitórias no desporto, constroem laços de amizade. A equipa dos Olivais Sul é radar comunitário desde 2019.
Ali para os lados dos Olivais Sul, no largo Jaime Carvalho, Américo José Brito, 61 anos, vice-presidente do Ingleses Futebol Clube e sócio 295, anda atarefado com a preparação do arraial que se realiza nos próximos dias. Os clubes mais pequenos vivem da boa vontade dos sócios e dos corpos gerentes e, por esta razão, não tem mãos a medir. Na sede, mostra, com orgulho, a vitrine das taças, dos troféus e das conquistas obtidas pela equipa, desde 1972.
Mas Américo não está sozinho nesta missão. Entre muitos outros, estão Vicente Barata, presidente, e José Piçarra, tesoureiro do clube. São amigos. Une-os a paixão pelo associativismo, ao bairro e, sobretudo, pelo desporto popular. Gostam de atletismo, de futebol, de escalada e de orientação. O objetivo é óbvio: promover o associativismo e o apoio à comunidade a partir da vida dos clubes. “A nossa ação ultrapassa muito a esfera do desporto”, mas parte dali, do desporto, da coletividade, lembra o vice-presidente.
Américo é o que se chama um homem dos sete ofícios. Trabalhou numa casa de ferragens, numa empresa de vestuário, foi Guarda Fiscal, pertenceu à Brigada Fiscal da Guarda Nacional Republicana, à Polícia de Segurança Pública e, finalmente, foi Polícia Municipal durante 24 anos. Mas o seu coração pertence ao Ingleses Futebol Clube e ao Olivais Sul.
Ingleses Futebol Clube?
Porquê Ingleses Futebol Clube? “O Clube foi criado para fazer um torneio de futebol, em 1972. Havia uma grande admiração pelo futebol inglês e, quando foi necessário dar um nome à equipa, para disputar um torneio de futebol de salão, ficou assim combinado: Ingleses Futebol Clube”, lembra Américo.
Atualmente, o clube não tem futebol e, desde 1979, começou a dedicar-se mais ao atletismo. “Nesta modalidade, temos 87 atletas federados e cerca de 80 não federados. Também temos a orientação e vamos começar com a escalada”, explica.
RADAR
Em 2019, depois de alguns contactos presenciais com a população idosa dos Olivais Sul, a equipa do projeto ficou a conhecer o clube, a quem apresentou o RADAR, o primeiro projeto de intervenção comunitária que pretende identificar a população 65+ da cidade de Lisboa. Muito deste trabalho deve-se a Paulo Alves, mediador de proximidade do Projeto Radar e atleta do Ingleses Futebol Clube.
Após a integração do Ingleses Futebol Clube na rede de radares comunitários, o clube passou a redobrar os esforços na identificação das pessoas desta faixa da população e a direcionar os pedidos mais urgentes para a equipa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Até ao momento, já foram encaminhados para o projeto, cerca de 15 moradores do bairro, que se encontravam em carência afetiva, social e financeira.
“Mais do que um clube, somos uma família”
“Aderimos ao projeto porque temos uma parte da população bastante idosa e, depois, há uma enorme proximidade entre estas pessoas e o clube. Existe uma vertente social muito forte na coletividade”, destaca. Conhecem as pessoas, a sua realidade, as suas dificuldades e anseios. Estão sempre atentos e prontos para ajudar.
O clube é um ponto de encontro, um local de convívio, onde várias gerações se encontram. Para Américo ainda existe uma certa “vergonha” em pedir ajuda, mas é algo que é desbloqueado porque “conhecemos o bairro como a palma das nossas mãos, sabemos sempre quem está com alguma dificuldade. Mais do que um clube, somos uma família”, nota.
Américo lembra que a pandemia foi um problema. “Estivemos muito tempo fechados e as pessoas não tinham para onde ir. Deixaram de ter um espaço para conversar, para beber um café, para conviver. Isto afetou muito a nossa população mais idosa”, assegura.
Já Paulo Alves, mediador de Proximidade do Projeto Radar, destaca que “além da sinalização da população 65+, o clube ajuda a população mais reservada a aceitar o apoio do projeto Radar. A partilha tornou-se mais fácil pela participação deste radar comunitário. De outra forma, seria impossível conhecer os problemas que afligem esta população à fundo”, finaliza.