Farmácia Santos e RADAR: A cuidar de quem precisa com empatia e proximidade
Na freguesia de Santa Clara, há um lugar que se destaca pela dedicação e carinho com os seus moradores. A Farmácia Santos, gerida por Cátia Alexandre há 14 anos, é mais do que um ponto de venda de medicamentos: é um espaço de acolhimento e atenção, especialmente para os mais velhos que, muitas vezes, se sentem sozinhos e invisíveis na sociedade.
A Dra. Cátia, juntamente com o Dr. Bruno, o diretor técnico, e João Mendes, mediador do projeto RADAR, têm sido testemunhas e protagonistas de muitas histórias de cuidado e transformação na comunidade. A farmácia aderiu ao RADAR em 2019, não sabendo, na altura, como funcionava, mas totalmente disponível para aprender e fazer a diferença.
“Quando começámos nem sabíamos muito bem o que esperar. Mas, à medida que fomos entendendo como funcionava, percebemos que a nossa farmácia podia fazer muito mais do que apenas atender as necessidades de saúde das pessoas. Podíamos fazer a diferença na vida delas, especialmente para os mais velhos, que muitas vezes passam despercebidos”, relembra a gerente da Farmácia Santos, com um sorriso no rosto.
O estabelecimento tornou-se um ponto de referência para o projeto RADAR, que visa identificar e apoiar pessoas em situações de vulnerabilidade social. “O comércio local, como pequenos supermercados, mercearias e serviços essenciais, também tem sido fundamental para o sucesso da iniciativa, com quase 70% das lojas da freguesia a atuarem como radares comunitários. Estas empresas, muitas vezes pequenas, têm um papel crucial em criar um ambiente de segurança e de pertença, especialmente para aqueles que já ultrapassaram os 65 anos”, explica-nos João Mendes.
Um dos casos mais marcantes que a equipa da Farmácia Santos acompanhou foi o de uma senhora, que já sofria de demência e vivia sozinha. Passava dias sem se alimentar corretamente e tomava a medicação de forma errada, o que levou Cátia a perceber que algo não estava bem.
“Ela era nossa utente e, certa vez, convidei-a para vir cá lanchar comigo. Disse-lhe para ela vir comer umas cerejas e, com isso, começámos a conversar um pouco mais sobre a sua vida. Foi assim que ela começou a desabafar um bocadinho mais. A senhora não tinha apoio da filha, a relação entre ambas era de alguma distância, pelo que ela vivia muito sozinha, o que afetava a sua saúde e bem-estar”, conta Cátia.
Com a ajuda de Bruno e da equipa da farmácia, a farmacêutica entrou em contacto com o projeto RADAR, que rapidamente mobilizou recursos para apoiar a senhora. Foi encaminhada para centro paroquial, onde começou a receber o acompanhamento necessário. Uma história com um final feliz. Hoje está bem e continua a visitar a farmácia.
“É gratificante ver que fizemos a diferença na vida daquela senhora. Às vezes, é fácil ignorar os sinais de que alguém precisa de ajuda. Mas nós, como profissionais de saúde, temos o dever de estar atentos. E, neste caso, foi o simples gesto de convidá-la para lanchar que fez toda a diferença. Às vezes, é tudo o que alguém precisa: um pouco de atenção e alguém para ouvi-los”, diz Bruno, que está na farmácia há seis anos e tem-se dedicado a esta missão com a mesma empatia e atenção que Cátia.
Mas os desafios não param por aí. A freguesia de Santa Clara tem uma população idosa significativa e grande parte enfrenta a solidão e a falta de apoio. João Mendes, mediador do projeto RADAR, explica como o comércio local se tornou um elo de ligação entre as pessoas mais velhas e os serviços de apoio, funcionando como um canal para sinalizar situações de vulnerabilidade.
“Nos últimos anos, temos vindo a notar que a população idosa precisa de mais do que apenas serviços de saúde. Os mais velhos precisam de se sentir vistos, acolhidos e valorizados. O RADAR tem sido fundamental para isso, pois permite que os comerciantes, como a Dra. Cátia e outros, possam identificar e sinalizar casos de necessidade. No fundo, estamos a criar uma rede de segurança comunitária, onde ninguém fica para trás”, diz João Mendes.
Cátia completa: “É por isso que este projeto é tão importante. Ensina-nos a olhar além da superfície. Cada pessoa tem uma história, tem as suas necessidades e o RADAR permite-nos acompanhar estas histórias de forma mais profunda.”
A empatia e o cuidado que a equipa da Farmácia Santos transmite exemplificam como os radares comunitários podem ser um pilar fundamental no apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade. A dedicação de Cátia, Bruno e João demonstra que a verdadeira saúde não está apenas no tratamento físico, mas no bem-estar emocional e social das pessoas, sobretudo dos mais idosos.
Na freguesia de Santa Clara, esta farmácia é mais do que um espaço de atendimento farmacêutico. É um ponto de apoio, de cuidado e de pertença para todos os que precisam de uma mão amiga, especialmente para os mais velhos, que têm tanto a ensinar e tanto a receber quando são tratados com dignidade e atenção.
Como Cátia diz com um sorriso: “Hoje são eles, amanhã somos nós. E enquanto pudermos, vamos continuar a fazer este trabalho com o coração, porque é isso que realmente faz a diferença.”