Senhora idosa

23 / 04 / 2020

Projeto Radar combate solidão e vulnerabilidade emocional

Depois de garantir alimentação, medicamentos e de outros apoios sociais e de saúde para enfrentar a situação de confinamento social, o projeto Radar entra numa nova fase, assumindo o desafio de combater a solidão e apoiar situações de vulnerabilidade emocional das pessoas mais velhas.

Arrancou, em janeiro de 2019, com o objetivo de identificar e conhecer as características da população da cidade de Lisboa com mais de 65 anos, articulando as suas necessidades com os diversos parceiros do Programa Lisboa, Cidade de Todas as Idades. Hoje, em plena época de pandemia, o projeto Radar continua a prestar um apoio fundamental para muitos idosos da cidade.

Desde que foi decretado o estado de emergência, Maria Luís Metrogos, 31 anos, já perdeu a conta de quantos telefonemas fez. Diariamente, estabelece contacto com as pessoas com mais de 65 anos da cidade de Lisboa, identificadas em situação de isolamento.

No início desta crise, a prioridade foi estabelecer o maior número de contactos telefónicos possível para assegurar as necessidades de sobrevivência básicas destas pessoas. Mas, o seu trabalho não se esgotou aqui. Após quatro semanas e muitos milhares de contactos telefónicos realizados, fruto de um intenso trabalho conjunto entre a Santa Casa e as juntas de freguesia, o grande desafio agora é de natureza mais qualitativa: há que cuidar das situações de maior solidão e vulnerabilidade emocional.

Solidão e vulnerabilidade emocional, o grande desafio

Das 9h00 às 17h30, Maria fala, ouve e sente as preocupações e os anseios deste grupo populacional pelo telefone. “Estas pessoas precisam de falar, de ser ouvidas e de sentir que alguém se preocupa com elas. Dizem-me constantemente que se sentem presas e isoladas, acusando cansaço, ansiedade e preocupação”.

Carla Pereira, 26 anos, partilha da mesma opinião da colega. “Os idosos estão preocupados, ansiosos e emocionalmente fragilizados. Se por um lado percebem a necessidade do isolamento, por outro veem-se frustrados com a perda da sua autonomia e liberdade”.

Maria, Carla e mais 26 jovens entrevistadores do projeto Radar têm como missão proporcionar-lhes um espaço de conversa onde possam expor as suas dúvidas, receios e angústias, conhecer como estão a ocupar o seu tempo e, simultaneamente, dar alguns conselhos e orientações úteis, ou mesmo proceder a eventuais encaminhamentos para respostas especializadas (ex. linhas de apoio psicológico).

Os contactos são importantes porque as pessoas sentem que não são esquecidas e que têm alguém para partilhar o que lhes vai na alma, asseveram Carla e Maria. Uma equipa composta por 28 jovens que além de ouvintes a tempo inteiro são, muitas vezes, a única voz do outro lado da linha telefónica para combater a solidão dos dias amargos.

Para conseguirem lidar da melhor forma com situações de fragilidade emocional, estes técnicos recebem formação através de webinars (seminários online) temáticos que a Unidade de Missão da Santa Casa dinamiza semanalmente. O objetivo é dotar os entrevistadores de ferramentas úteis ao desenvolvimento de competências para a sua atividade, em áreas como: escuta ativa, comunicação assertiva, conversa empática e outras técnicas psicossociais básicas que lhes permitam lidar melhor com os desafios com que são confrontados.

Mário Rui André, responsável pela Unidade de Missão, explica que “tínhamos de arranjar também respostas do ponto de vista emocional. Muitos destes seniores da nossa cidade já viviam em situações de isolamento antes desta crise sanitária. Percebemos que a maioria destas pessoas falava unicamente uma vez por dia com os nossos e que estavam a acusar sinais de maior fragilidade emocional e psicológica por causa da atual situação”.

O projeto Radar é uma operacionalização do Programa “Lisboa, Cidade de Todas as Idades”, cujo objetivo é conhecer a população com mais de 65 anos da cidade de Lisboa sem apoio regular das instituições. Ao longo de um ano, foram realizadas 30 mil entrevistas que permitiram conhecer as suas expetativas, as suas privações e as suas potencialidades para que, em estreita colaboração com Câmara Municipal de Lisboa, o Instituto da Segurança Social, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a Polícia de Segurança Pública e as juntas de freguesia e a Rede Social de Lisboa -, possam ser dadas respostas mais céleres e assertivas aos desafios da longevidade.