“Tasquinha da Linha”: uma porta aberta, onde nunca se diz que não
Apeada entre a linha de comboio de Roma/Areeiro, onde diariamente centenas de pessoas passam do trabalho para casa e de casa para o trabalho, a “Tasquinha da Linha” preserva o encanto do antigamente e, entre um café e um bolo, contam-se as notícias diárias e encontram-se “velhos” amigos.
Com quase meio século de existência, a “Tasquinha da Linha” é mais do que um estabelecimento. É também uma família, onde os clientes ainda são tratados por “meninos e meninas” e os aniversários são assinalados sempre em festa, com direito a bolo e vela.
Rosa Ferreira, filha dos donos originais, assumiu o controlo do estabelecimento há seis anos. Quis o destino que o mesmo sítio onde antes brincava com bonecas e fazia os trabalhos de casa, fosse hoje o mesmo sítio onde trabalha. “Foi aqui que cresci e formei-me como pessoa. Não mudava isto por nada”, revela com carinho.
Conhecedora das pessoas e de todos os cantos do bairro, Rosa acredita que nos últimos anos, principalmente nos últimos cinco, o bairro “foi ficando mais envelhecido”.
“Quando era criança, aqui ao lado, o jardim da praça, estava sempre cheio de crianças com os avós. Hoje, se passar por lá é raro ver um jovem, de vez em quando lá está uma pessoa mais velha sentada no banco a ver as pessoas passarem”, conta com alguma tristeza.
Foi com agrado que durante a pandemia, recebeu a visita das mediadoras do RADAR, que lhe explicaram o conceito do projeto e de como a “Tasquinha da Linha” poderia ser um importante elemento de apoio à população mais velha do bairro. Logo na altura foram desafiados pela equipa do RADAR a entrar na plataforma do projeto, como radar comunitário, algo que Rosa considera ser “um motivo de orgulho”.
“Não conhecíamos o RADAR, mas já trabalhávamos com algumas associações da zona, no apoio aos mais velhos. Desde que somos radares comunitários conseguimos, em conjunto com a equipa do projeto, apoiar muitas mais pessoas e de uma maneira rápida”, frisa a proprietária.
“Não conseguimos ajudar todos, mas pelo menos ouvimos toda a gente”
No seu espaço, Rosa e o marido não servem só refeições e cafés. Ao longo dos anos, foi cativando a confiança dos moradores, que já conheciam a “Tasca do Tio Sousa”, e com a pandemia essa mesma confiança foi se aperfeiçoando, transformando o típico estabelecimento de bairro num porto de abrigo para vizinhança.
Revela que apesar do lado devastador da pandemia, esta foi “tempo em que desenvolvemos relações de amizade e confiança com os nossos clientes, em que deixámos de ser apenas a Rosa do café, para a Rosa e o Hélder que iam ajudando com algumas pequenas reparações em casa, com a comida que levávamos, com o telefonema que fazíamos. Foram tempos difíceis, em que não conseguimos ajudar todos, mas pelo menos ouvimos toda a gente”, conta Rosa.
Foi com isto em mente que, mal foi desafiada pela equipa do RADAR, Rosa aceitou ser um radar comunitário.
A proprietária destaca a importância do projeto RADAR para a população mais velha da freguesia, mas realça que “é necessário que todas as instituições da freguesia trabalhem juntas para apoiar os mais velhos”, recordando ainda que “estas pessoas, nem sempre estão recetivas a ajudas de estranhos, mas nisso o RADAR tem sido”.